Mudei de vida! Virei caminhoneira!

Estava aqui pensando na melhor forma de iniciar esse texto. Qual a melhor saudação a se dar a um pessoa que você não vê há um tempão? Você sabe que o diálogo, aliás o monólogo expelido, te traz um grande conforto. Você sabe que mesmo que ela escute, ou melhor, leia apenas uma linha do seu discurso, significa que sua história, por mais chata que seja, vá a diante. Você deve estar se perguntando: Se essa pessoa é tão importante pra você, se ela tem esse significado, mesmo que você nunca tenha visto o rosto dela, ou mesmo soubesse o seu nome, e se ela te faz tão bem, por quê ficou tanto tempo sem falar com ela? 

Bom, tenho alguns motivos por ter me afastado de você, meu caro leitor. E caso você não saiba, essa pessoa importante é você, meu guerreiro corajoso que conseguiu ler esse monte de devaneios até aqui. Muitos deles podem ser tomados como desculpas, mas não vou falar sobre nenhum deles. Não voltei aqui para me justificar (quem sabe não seja uma história pra outro post). Escolhi voltar a escrever, porque aqui eu não preciso me preocupar em mais nada, a não ser a língua portuguesa (imagina como minha cabeça anda ocupada com esse idioma super fácil), e em contar a minha história de uma forma divertida, emocionante, e que as pessoas entendam. Sendo assim, acredito que o motivo de eu ter voltado, possa ser um pouco mais relevante no momento. Sendo assim, vamos direto ao ponto.

Mudei de vida! Virei caminhoneira!

Nossa, mudou de novo?! Sério!? Você? Nossa, já imaginava! Caraca, mas e a TV? Mas como assim?

Essas foram algumas frases que eu ouvi quando contei para algumas pessoas. Mas, as que mais me marcaram, foram:

Nossa, você é foda! Que orgulho de te ver dirigindo esse monstro! Você é minha inspiração! Queria ter a sua coragem! Quem sabe eu não pego carona e vou também? 

Eu voltei, porque nessa mudança toda, muita coisa mudou na minha vida, e eu adoraria poder contar para você, algumas situações e boas histórias (verídicas ou não, vocês nunca saberão!) sobre essa minha vida na estrada. 

Eu sei que muitos me acompanham no Instagram, mas, para mim, nada tem o poder de concentração maior do que as palavras, afinal, ninguém aqui está vendo o meu "outfit", meu cabelo bagunçado ou suuuuper hidratado, se perguntado qual shampoo eu uso, enquanto eu conto algo que acho interessante. Você está apenas concentrado no que eu estou tentando dizer, ou contar, e isso sim é audiência pura, simples e sólida! Então se você chegou até aqui, parabéns novamente, e muito obrigada por acompanhar o meu show! 

Eu gostaria então de começar contando sobre os lugares lindos por onde tenho passado, sobre o pôr do sol que nunca esquecerei na vida, ou sobre como é legal a sensação de acordar na França, trabalhar na Alemanha e dormir na Holanda, mas eu gostaria iniciar contanto os meus medos!

Tenho uma pergunta, só pra esclarecer algo, você também acha que era mais corajoso, quando era mais jovem? Porque eu atualmente, aos 40 me acho uma "cuzona" (com perdão da palavra chula, mas ela representa muito bem meu sentimento)!

Eu sempre me achei corajosa. Sem medo de nenhum desafio. Adorava trilhas, Velocidade, Altura, etc. Aos 35 eu já não adorava mais, mas também não arregava**. Hoje aos 40, minhas mãos ficam geladas quando a adrenalina sobre demais! Isso nunca me aconteceu antes!

Falando então sobre os medos de dirigir um caminhão.
Não é apenas um caminhão, é um veículo trator, mais um reboque que pode pesar carregado, até 40 toneladas no total. Sem contar que cada carga tem um cuidado específico na condução, afinal, você não gostaria de comprar uma maçã toda batida no mercado, ou receber aquela encomenda com a caixa toda amassada. O caminhão também possui dois reservatórios de combustível com mais ou menos 650 litros em cada. Além de ter uma potência forte o suficiente para subir a 90km/h, então na descida, sai da frente!

Tudo aumenta! O tamanho do veículo, o tamanho da responsabilidade com a vida de outras pessoas, afinal, sou capaz de atropelar algo e nem sentir, devido ao peso. Aumenta também a distância de paragem, ou seja, no carro, se você pisar no freio, em poucos metros, o carro está completamente parado, já um caminhão não. Sendo assim, tudo tem que ser visto antes, antecipado! Se há alguém freando lá na frente, se há uma obra na estrada, pois 200 metros pode não ser suficiente para você diminuir a velocidade, aguardar o carro te ultrapassar e mudar de faixa antes de a obra iniciar e você não terá mais espaço para sua manobra segura. A ordem é sempre em alerta.

Eu começo a falar sobre isso e minhas mãos já começam a suar, porque eu apenas descrevi uma situação que você precisa coordenar o que seus olhos viram, iniciar a manobra, e ainda sim, utilizar os recursos do caminhão para fazer tudo com segurança. E aí meu amigo? Aí é que entra o problema da aprendizagem, pois tudo é mais complicado, lento, mais difícil de executar ao mesmo tempo em que sente a adrenalina passar pelo seu corpo e acelerar seu coração ao ponto de chegar ao mais alto nível de concentração. Suas mãos ficam geladas, você mal olha pra frente, apenas para o retrovisor a espera de que o motorista ao lado seja prudente, e acelere a porcaria do carro e que te ultrapasse logo, para que você consiga mudar de faixa em segurança e ufa, consegui!! Se tenho medo? Pra "caralho"! Toda curva em estrada que eu não conheço a noite me da um "cagaço"***, eu simplesmente NÃO POSSO ERRAR! Aquele conceito de parceiro de profissão entra na sua veia, pois a vida do meu companheiro de estrada está nas minhas mãos! Seu errar a frenagem, seu eu abrir demais a curva onde não há acostamento, se eu me apavorar numa ultrapassagem, seu eu tombar o caminhão, já era! Esse é o meu maior medo, o medo da responsabilidade de outras vidas. Quando você é inexperiente, você acha que chegar mais rápido usando as suas "habilidades" em conduzir, vale o risco das suas manobras radicais. Mas quando você se torna experiente, você sabe que nada vale o risco da sua vida e principalmente o da vida de outras pessoas. Você aprende que o importante é chegar bem e seguro, não importa se vai demorar cinco minutos a mais!

Tem muitos outros medos que eu quero compartilhar com você. Apenas comecei com esse, afinal, isso não é um livro, e já me alonguei demais! Você que me acompanhou até aqui, é pra você que eu escrevo, só pra você. Porque eu sei que um dia, por mais rápido que seja, você se lembrará desse texto, ou pelo menos de uma linha, e talvez ele surja em uma conversa de bar, num encontro de família, e aí você, que nem tinha a intensão, que nem me conhece, me tornará imortal. Ser imortal não é viver para sempre, e sim ser lembrado!

Obrigada por me ouvir e desculpe a ausência!

*Pessoa covarde, medrosa

**Desistir, voltar atrás
***um grande susto, um medo repentino.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Inspirador Incrível. Espero por mais textos logo!

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  3. Parabéns Fabi!! E confesso que sinto uma invejinha de ser caminhoneiro na Europa.
    A vida é para ser vivida, e são esses desafios que a fazem interessante. Vai firme!!! Abs!

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